sábado, 17 de maio de 2008

Uma dose de coragem

Por Jessyka Albuquerque


O homossexualismo já se tornou normal nos dias de hoje, mas poucos são os que se assumem e têm a coragem de encarar a sociedade


Em seus documentos e para alguns familiares, é Marcelo. Na sua aparência e para todos os seus amigos, é Marcela. Uma “mulher” corajosa e decidida que resolveu correr atrás e enfrentar barreiras para viver bem.

Doutorando em Letras, formado em Direito, professor universitário e funcionário público concursado da Câmara dos Deputados, Marcelo desmistifica o estereótipo errôneo que se tem sobre os homossexuais, que, na maioria das vezes, são vistos como desprovidos de estudo e de estabilidade financeira.

Seu gosto pelo universo feminino começou muito cedo. Na infância não gostava de brincadeiras de meninos e, com isso, só brincava com meninas, não por gostar delas, mas por se sentir mais interado naquele meio.

Desde pequeno, já se sentia estranho em relação às outras crianças e era motivo de chacota e piadas irônicas devido ao seu jeito delicado e as suas características femininas. Foi na adolescência, com seu talento aflorado para a dança e o teatro, que começou a revelar seu lado afeminado. Em todas as peças que apresentava e nos bailes de carnaval, queria se vestir de mulher.

Sua primeira experiência homossexual aconteceu aos 13 anos, com um cara onze anos mais velho. Nunca se interessou sexualmente pelo sexo oposto. Na adolescência, beijo foi o máximo que aconteceu com alguém do sexo oposto. “Senti-me estranha, aquilo não combinava comigo”, afirma Marcela. A partir daí teve certeza que não sentia interesse algum por mulheres e nem por gays, seu interesse era por homens.

A família sempre desconfiou do seu homossexualismo, por isso não foi necessário contar a todos sua decisão, as coisas foram fluindo. Aos vinte anos, Marcela conheceu um rapaz por quem se apaixonou e percebeu que era hora de se expor e contar a sua mãe, apesar do receio em relação a sua reação. Eliana, mãe de Marcela, sempre apoiou e esteve ao lado do filho. “Apesar do choque inicial, eu sempre apoiei meu filho, a felicidade dele é a minha também”, afirma ela.

O casamento de Marcela era muito estável e durou cinco anos, só foi abalado devido ao falecimento do marido. A única coisa que a desagradava na relação era o fato de seu companheiro não gostar de vê-la vestida de mulher. Após o sofrimento inicial, Marcela resolveu dar a volta por cima e começou a se descobrir mais como mulher. “Passei a sair vestida de mulher e percebi que aquela sim era minha essência. Desagradava-me ter que trabalhar com roupas de homens”, afirma.

Antes da sua transformação definitiva, Marcela passou por grandes constrangimentos, pois, devido a sua grande quantidade de hormônios femininos, sua aparência chamava atenção em muitos lugares públicos, principalmente banheiros. “Era muito ruim ter que escutar: Senhora, você errou de banheiro!”, conta Marcela.

As mudanças físicas foram fluindo naturalmente. Em um mês pintou o cabelo, no outro tirou mais a sobrancelha, mas, no começo deste ano, Marcela resolveu que era hora de mudar completamente. Colocou silicone nos seios, renovou o guarda roupa e resolveu que seria uma mulher. No trabalho, as reações foram as mesmas, espanto inicial e muito elogio. Marcela diz estar muito mais contente, realizada.

Hoje, aos 29 anos, namora há dois e garante que está em uma das melhores fases de sua vida. E ainda pensa em melhorar. Está pesquisando sobre uma cirurgia de mudança de sexo, que tem a melhor técnica no Equador. Mas isso são planos futuros, a prioridade agora é curtir a nova fase e quem sabe se casar de novo.



Conheça uma história como a de Marcela.
Foto do arquivo pessoal de Marcela

7 comentários:

Mônica Plaza disse...

Nossa!!! Nessa foto ela tá linda! =D
Admiro muito essas pessoas que não ligam para a opinião de ninguém e só querem ser felizes!!!

Anônimo disse...

Ainda existe preconceito na sociedade, sim! E as pessoas que o enfrentam são dignas do maior respeito!

A gente só avança quando respeita as diferenças.

Anônimo disse...

Primeiro: se ele "resolveu ser mulher" ele já é uma mulher. Por isso não precisa das aspas no "mulher" e nem ser chamado de "ele" na matéria inteira. Isso também é preconceito, pois é considerar o sexo biológico o preponderante, acima mesmo da escolha feita pela pessoa. Agora, o que acho que precisa ser corrigido com urgência é esse trecho: "O casamento de Marcela era muito estável e durou cinco anos, só foi abalado devido ao falecimento do marido." Como assim "abalado pelo falecimento"? Se o marido faleceu, não houve "abalo", houve uma separação completa e definitiva. Cuidado com isso, pérolas jornalísticas na internet vão parar no Orkut. rs. Mas é um tema super interessante. Apesar desses detalhes, a matéria ficou legal. Parabéns.

Anônimo disse...

Gostei da abordagem, feita com imparcialidade e da quebra de paradigmas.
A nossa sociedade é preconceituosa e encara algumas "atitudes" como vindas de pessoas sem instruções ou com algum tipo de distúrbio psicológico.

O tema foi bem escolhido, em um momento em que leis a respeito do assunto são votadas, e muito bem desenvolvido.
Parabéns!

As Calcinhas Delas disse...

Olá Joceline...

Semana passada discutimos bastante sobre o seu comentário. E eu descobri algumas coisas interessantes sobre essa matéria. A primeira é que a própria fonte leu o texto e não o achou preconceituoso (nem as aspas) e a outra é que segundo o dicionário internacional de idiomas da editora EGM mundial: Abalo é tremor, sacudidura e comoção. Bem, não é o termo mais preciso do mundo, mas consideramos que soou bem no conjunto da frase e por isso decidimos não alterá-lo. Em todo caso é bom receber comentários que dão margem à discussão e à perquisa. Cris

As Calcinhas Delas disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
As Calcinhas Delas disse...

Olá Mônica, Rudrigo e Raylla.
Muito obrigada pela atenção.
Ficamos felizes em saber que assuntos, ainda polêmicos, são bem vistos e que a sociedade vive um momento de transição, procurando conhecer e respeitar o ser humano em suas especificidades.

Jessyka Albuquerque