Por Jessyka Albuquerque
Sinceramente, eu não sei o que eu mereço...
Já fui de um cara apaixonado por carros. Daqueles sem perspectiva de vida, que só desejava investir o pouco que ganhava no carro de linha e em aparelhos de som ensurdecedores.
Já fui de um viciado em academia. Tão compulsivo por pesos e largura, que querendo ou não, ficou parecendo uma muralha. Às vezes sinto medo diante de tanta massa muscular quase escorrendo de seus braços.
Já fui de um bem estudioso. Esse sim, com desejo de crescimento (não na largura), mas profissional. Ele vai se dar bem. Nós que não nos damos tão bem. A química foi legal, mas não suficiente.
Já fui de um carinha da escola. Nos víamos todos os dias e a grande desvantagem era ele me ver com cara de sono, e amassada. Se eu tivesse chorado a noite anterior todinha, ele veria, sim, meus olhos inchados. A vantagem era vê-lo logo cedo e dividir risadas bobas de coisas de escola. Ele sempre me ajudava nas tarefas de física.
Já fui de um bem sem vergonha, mulherengo. Ali vivi minhas grandes aventuras, sem limites, sem rédias, sem freio. Eu não tinha medo de esconder nada. Dividíamos tudo, experimentei diversas sensações, e fomos felizes apesar das diferenças.
Já fui de um que conheci na igreja. De boa família e de sorriso bonito. Pensava que iríamos juntos todos os sábado à missa. Mas que bobeira, não passou de alguns beijinhos e tantos suspiros.
Já fui de outro cara de outra igreja. Talvez eu quisesse ser beata. Passei a freqüentar outras missas só para vê-lo dedilhar no violão. Pensava que cantava pra mim, toda vez. A família me adotou, mas não ele. Fiz tanto, ele nada.
Já fui de um que tinha namorada. A adrenalina era boa, ruim era quando eu deitava na minha cama e pensava 'Fui a outra'; era demais arriscar tanto assim. Minha sensibilidade doía.
Já fui de muitos caras numa noite só. Sábado à noite, domingo à noite, acreditava que sendo de ninguém, poderia ser de todo mundo num evento badaladérrimo, regado a muita música e inconseqüência. Já que tudo me favorecia, me permitia ser suja por pelo menos, aquele curto tempo.
Já fui de um poeta. Chamam-no assim. Um delírio, uma fantasia, uma saudade... Escrevo feio e ele escreve bonito. E, atualmente, penso nele antes de dormir. Pelo menos adormeço mais calma, e com aspiração de bons sonhos. Não o vejo, mas o sinto de alguma forma... tão boa. E essa sensação eu queria para sempre. Por mais que o sempre não exista, o faço dentro de mim.
Amanhã serei de quem?