sexta-feira, 30 de maio de 2008

Pacto com a felicidade

As mulheres de hoje estão cada vez mais sozinhas, é verdade, mas estão longe de serem solitárias, infelizes ou indesejadas.

Por Gabriela Alves

Solteira, divorciada ou viúva, estar sozinha não implica necessariamente ser infeliz, solitária. Foi-se o tempo em que ser solteira era sinônimo de pessoa volúvel ou simplesmente, encalhada. Hoje em dia, estar sozinha se tornou uma opção.

Muitas mulheres já aderiram a esta independência. Morar sozinha, não dar satisfação a ninguém, entrar e sair a hora que quiser sem dar explicações. Sair com os amigos pra se divertir, não perder mais seus sábados à noite chorando, ou viver com enxaqueca por relacionamentos frustrantes.

Divorciada, mãe de duas filhas, formada em direito pela Universidade Católica de Brasília, Maria da Gloria, 53 anos, diz que já teve que escolher entre namoro e os estudos. “Desde criança, recebi uma educação que sempre valorizou o lado profissional e intelectual. Fui criada para ser, primeiro, uma profissional e nunca houve diferença no tratamento dado a mim e ao meu irmão. Algumas vezes, tive que escolher entre um namoro e os estudos e optei pela vida acadêmica. Não tenho marido e me sinto muito bem, porque tenho orgulho de ter personalidade própria”.

O poder de escolher
Permitir manter-se flexível para renovar seus desejos em cada fase da vida. Mudar de idéia quando quiser. Conquistar tempo e espaço para o que importa.

Formada em Administração de empresas, Solange de Araújo, 37 anos, disse que se considera uma pessoa bem-sucedida e feliz. Destacou que a palavra solidão, não faz parte da sua vida. Solange investiu na carreira, fez cursos de especialização e foi aprovada em concursos públicos.
“A mulher não precisa se casar para ser feliz. Se ela trabalha, estuda, é dona de si e procura atingir seus objetivos, o casamento é secundário. Não me casei e não me sinto só, porque só tem solidão quem quer. Sempre consegui conciliar a minha vida afetiva com a profissional”.

Estudo da fundação Getúlio Vargas, de 2005, revela que 30% das mulheres brasileiras vivem solteiras. O que não significa que vivam infelizes ou à procura de um parceiro. Divina Lúcia Santana, por exemplo, tem 50 anos, e há mais de três anos não tem namorado. Mãe de cinco filhos, e separada há oito anos do último marido, Divina diz que não está à procura de um namorado. Sente-se completa e feliz morando com seus filhos.

Engana-se quem pensa que as mulheres solteiras estão sempre à procura de alguém. O mito do príncipe encantado há muito já ficou para trás e o sexo casual não é mais tratado como algo imoral ou impensado. Casar e formar família hoje são planos que podem estar bem atrás de prioridades como conseguir um emprego ou formar-se em curso superior.


Veja também:

sábado, 24 de maio de 2008

Catarse

“Aconteça o que acontecer, o teatro continuará sendo o que foi: um documentário vivo.” Esta frase da glamourosa Dulcina de Morais une duas coisas as vezes tão distantes: Vida e Teatro.

Como o nosso blog que nessa semana homenageia a dama do teatro e traz bem arquitetadamente partes cotidianas de vidas escondidas. Reais ou interpretadas... Que importa? Afinal como diria Artaud, outro gênio do teatro: “- Romper a linguagem para tocar a vida é fazer ou refazer teatro é rejeitar as limitações habituais do homem e tornar infinitas as fronteiras do que chamamos realidade.”
As Calcinhas Delas
Foto de Dulcina de Morais do Arquivo FBT/Divulgação

O centenário da musa

Por Larissa Itaboraí


“Sempre vivi do teatro, no teatro, com o teatro e para o teatro”


Uma das grandes musas e incentivadoras do teatro comemora o centenário de seu nascimento em 2008. Dulcina de Moraes, filha dos grandes atores teatrais, Átila de Moraes e Conchita de Moraes, ingressou nos palcos ainda muito jovem, na verdade desde seu nascimento (3 de fevereiro de 1908, Rio de Janeiro) e exerceu diversos papéis nos bastidores dessa arte. Trabalhou como atriz, produtora, diretora e até lecionou artes cênicas.

Considerada a grande dama do teatro nacional, Dulcina, criou em 1955 a Fundação Brasileira do Teatro (FBT), no Rio de Janeiro, com o intuito de aprimorar as técnicas teatrais. A criação dessa nova ferramenta para o aperfeiçoamento de profissionais do teatro, deu-se da parceria de Dulcina com seu marido, Odilon Azevedo. Essa parceria foi responsável pela formação de atores extraordinários do teatro brasileiro.

Essa mesma FBT, anos depois, mais precisamente no início dos anos 70, foi transferida para Brasília, dando origem ao Teatro Dulcina de Moraes e a Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, primeira instituição de artes a ser reconhecida no país. A dama do teatro foi a sétima geração de uma família de artistas, “Nasci no Teatro. As mamadeiras tomei-as ouvindo estudar papéis, ao sabor das excursões de meus pais, aqui e ali, onde fui educada”.

Diante dessa grande comemoração, a Biblioteca Demonstrativa de Brasília, juntamente com a Faculdade de Artes trouxe a exposição Dulcina de Moraes – 100 anos, fixada no espaço cultural da biblioteca, a exibição apresentou mais de 50 peças utilizadas pela própria Dulcina durante sua vida, como livros, peças de seu vestuário e fotografias. Infelizmente a exibição desses objetos já foi finalizada pela curadoria, e mais de 540 assinaturas foram gravadas no livro de presença.

Porém, para quem deseja apreciar um pouco mais sobre essa grande figura do teatro, no quinto andar da FBT, estão alguns objetos da diva teatral, como escritos de próprio punho, álbuns de fotografia, documentos pessoais, cartas, discos, entre outras lembranças. A idéia é produzir uma Sala de Memória com o acervo que a atriz deixou, projeto de sua sobrinha e admiradora, Vera Moraes.

É esse o brilho deixado pela dedicação de uma mulher que fez tanto pelo teatro brasileiro, onde se comunicava com gestos e olhares. “A ela, nós devemos a segunda-feira de folga, o fim da carteirinha de prostituta para atriz, a presença do autor brasileiro nos palcos do Brasil.” Relato de Fernanda Montenegro.
Morreu em 1996, em Brasília.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

O arquiteto

Por Diândria Daia

Essas operadoras de celular só nos causam problemas. Não é à toa que são campeãs de reclamações e processos na justiça. Se sofro de amor hoje, a culpa é de uma delas. Foi há uns meses atrás. No caminho para casa, ao descer do ônibus, recebo uma mensagem da operadora: bônus para falar de graça. Nada de grandioso, apenas alguns minutos de ligação, mas fiquei animada, e já fui caminhando sorridente para casa, pensando que coisas pequenas podem alegrar o dia.

Entrei na rua do meu condomínio e vi uma faixa simples, sem adereços, sem nada, apenas dizendo "arquiteto, faço projetos" e o telefone de contato – evidentemente um celular. Lembrei que mamãe gostava dessas coisas de projetos de casa. Ela mesma fez o projeto da nossa, coisa amadora, claro, mas tinha plantas e até maquete de isopor, imagine!

Pensei comigo o quanto um projeto desses seria caríssimo. E decidi ligar só pra saber. Caro leitor, se não fosse o referido presente da operadora, juro, não tinha ligado. Mas eu ia ligar de graça e só pra fazer graça. Ia saber o valor, agradecer, desligar o telefone e continuar minha vidinha pacata. Liguei.

- Boa tarde, gostaria de saber o preço do projeto?
- Sim, mas como chegou ao meu número?
- Em uma faixa, na Vicente Pires.

A conversa se desenrolou rápido, mas logo deu para perceber que o arquiteto era muito educado e simpático.

- Projeto para residências custa sete reais.
- Sete reais? – Espantei-me em alto e bom tom. – Mas só sete reais para o projeto de uma casa? – E o rapaz confirmou que era isso mesmo, mas emendou, meio sem jeito:
- Bom, sete reais é o valor dos desenhos. O projeto completo mesmo custa 14 reais.
- Mas eu só queria o desenho, mesmo, e sete reais eu posso pagar. Como faz?
- Estou perto, ainda hoje posso ir até sua rua. Qual é o endereço?

Detalhes da visita acertados, cheguei em casa, borbulhando de alegria e contei para minha mãe que um arquiteto passaria lá para fazer um desenho pra nossa residência, por apenas sete reais.

É claro que minha mãe não acreditou: "sete reais não paga nem a gasolina", disse ela. Se eu tivesse ponderado, concordaria, mas eu acabara de falar ao telefone com o arquiteto e como ele já estava a caminho, e eu muito feliz com a idéia de ter um desenho técnico da minha casa, nem me importei com a possível confusão.

Certa vez ouvi uma frase que dizia que se algo tem chance de dar errado, certamente vai dar. Pouco tempo depois, um rapaz jovem, lindíssimo e muito educado chegou à minha casa. Sentou-se, oferecemos algo para beber e iniciou o assunto do desenho. Entre sorrisos e ótimas sugestões para os espaços internos da minha casa, o jovem arquiteto comentou que o desenho seria apenas sete reais por metro quadrado. Minha cara foi completamente ao chão. Acho que eu nem conseguia mais olhar para o arquiteto, tamanha vergonha.

Mamãe na sala, mais empolgada que eu com a idéia, parecia não se abater com a cena que se seguia, e ficou puxando papo com o arquiteto, ao invés de mandá-lo logo embora. O simples desenho daria em média uns setecentos reais ou mais. Eu certamente não tinha aquele dinheiro e se tivesse não estava disposta a gastar com aquele propósito.

Mas também, que tola! Com um pouco de bom senso, qualquer pessoa imaginaria que o valor que um arquiteto cobra é por metro quadrado. Todo mundo sabia, desde o começo que não era apenas sete reais. Até meu eventual leitor. Até o infeliz bônus da operadora de celular foi mais do que isso. O rapaz finalmente foi embora e eu estava certa que nunca mais o veria e que logo me esqueceria de tamanha vergonha que passei, fazendo o rapaz perder seu tempo e sua gasolina.

Domingo, como todos os outros, fui à igreja, já superado o caso de dois dias atrás. Qual não foi minha surpresa ao ver ali o arquiteto, ao vivo, a cores e com toda simpatia e beleza que cercavam aquela figura! Era impossível não ir cumprimentá-lo. Descobri que ele freqüentava as reuniões já há algum tempo e pensei “como não o vi antes?”.

Na semana seguinte, o tal arquiteto me telefona. Achou feliz a coincidência do domingo e me convidou para sair para tratar do projeto. O coração bateu forte. É claro que aceito! Eu disse logo. Como não sairia com aquele rapaz encantador, que o destino tratou de colocar no meu caminho uma segunda vez?

Tem mulher que é meio boba assim mesmo. Basta um olhar - às vezes sem nenhuma intenção - que já cai de amores. Pensei mil vezes, por que ele havia decido um encontro apenas comigo em uma lanchonete no shopping, ao invés de tratar com minha mamãe em casa ou noutro lugar menos sugestivo? Bobagem da minha cabeça, eu respondia. Até que me "caiu a ficha": como é que eu ia falar de um projeto que eu não ia fazer? A vergonha haveria de ser ainda maior que da primeira vez.

Pensei bastante e concluí que eu não tinha deixado claro que não levaria a tal idéia adiante. "E se o rapaz quer apenas o pão de cada dia? Fico eu aqui numa ilusão ridícula e ainda pago um belo mico." Estava decidido: eu não trataria de nada com o rapaz. Liguei novamente, desmarquei o encontro e expliquei que não faria o projeto, da forma mais cordial que encontrei.

Estava aliviada, e o caso resolvido. Bom, isso se eu não encontrasse o tal rapaz toda semana. Parece que depois do ocorrido, na igreja a única pessoa que esbarrava comigo era o tal arquiteto. Sempre lindo, e sempre educadíssimo. Sabe aquelas pessoas que são tão educadas que você fica pensando que tem que ter algo por trás de tanta simpatia? Ele era assim, ouvia o mais ridículo comentário com muita atenção e sorria sempre. Olhava nos olhos, cumprimentava a cada oportunidade. Apaixonei-me.

Era um amor platônico, porque em pouco tempo não tinha mais projetos e nem coincidências a serem tratadas. Não tinha assunto e nem eu sabia como me portar. A gente fica bobo quando cai nessas de amores. Passado algum tempo o rapaz desaparece. Com apuro jornalístico e discrição ímpar, descubro que foi morar no interior do Paraná e que não pretende voltar para Brasília.

E agora fico aqui morrendo de amor mais platônico ainda. Culpa daquela meleca de operadora. Se não tivesse me dado o bônus infeliz logo naquele dia, logo na frente daquela faixa!

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Elektra

De Willendorf a Milo
Não tínhamos cabeça
perdemos os braços
Engordamos e emagrecemos
Sempre aos pedaços

carne, carne
sobre pedra...
Roi o rato
o reino medra...


Temos sangue
Não azul
Animal santo
mais de três dias sangra
e nunca morre


Morre sempre
Sempre chora
Sempre mora
ou faz morada
as vezes tem na-morada
alguma coisa de pré-conceito
que forma conceito...
se aprofundando virando
Carne, sangue quente.
Gerando galáxia

Gerando Gente!


Cristina Lino do Nascimento 15/02/07


foto: eu por Thiago Lima

sábado, 17 de maio de 2008

Preencha a Lacuna

Por: Cristina Nascimento

A vídeo-arte surge na decada de 60 através dos trabalhos de integrantes do grupo Fluxus, e dos pioneiros Naum June Paik e Wolf Vostell. Sempre associada as vanguardas artísticas ela bebe na fonte de movimentos como dadaísmo, surrealismo, Pop arte, minimalismo e arte conceitual.
Com uma proposta de cinema antiilusionista e auto-reflexiva a vídeo-arte sempre se caracterizou pelo baixo custo de suas produções em relação ao cinema comercial e por suas propostas metalinguisticas e inquetantes que obrigam o expectador a imterpretar e a se colocar no filme.
Um tipo de estética sempre marginal tem agora mais um espaço de veículação na cidade: é projeto Lacuna que ocorre mensalmente no Espaço Cultural da 508 Sul. Organizado por Mayra Miranda, Flávia Mendes, André Santangelo, Luan Grisola e Gabi a mostra vai incorporar não só Vídeo-arte como outras formas de curta-metragens e animações e ainda a tempo para se inscrever...

Calcinhas: Qual a proposta do projeto Lacuna?

Flávia Mendes: A principal proposta do Projeto Lacuna é promover mostras mensais de vídeo no Espaço Cultural 508. Além disso, há interesse em catalogar e arquivar esses vídeos em uma videoteca de acesso público no mesmo espaço onde acontece as mostras. Essa iniciativa visa ampliar a divulgação das produções da cidade, as produções independentes, promover intercambios com a produção de outros estados e chamar atenção do público para a Vídeo-arte, essa forma de expressão que tem apenas quatro décadas (no Brasil).


Calcinhas: Como a proposta se insere no contexto atual desse tipo de produção artística na cidade?


Flávia Mendes: Por sua acessibilidade a Vídeo-arte já tem uma vasta produção que cresce cada vez mais. Apesar desse crescimento a cidade ainda tem carência nesse campo, especialmente no incentivo, que também é um objetivo do Lacuna. Os vídeos podem apresentar perfis bem diversos como video-arte, video-dança, video-artivismo, animação, curtas, enfim, é também uma preocupação discutir formas diversificadas de linguagens. Há também uma preocupação política e social de organizar, quando houver acervo suficiente, mostras temáticas como a exibição de vídeos produzidos pelo Centro de Mídia Independente (CMI).O contexto atual de Brasilia está, cada vez mais, abrindo novos espaços, paralelos ao que o Projeto Lacuna tem, por exemplo, o Ultimaquarta, organizado por Oziel que, apesar de algumas diferenças, também consiste, basicamente, em mostras de vídeo-arte.


Calcinhas: Como surgiu a idéia do projeto?


Flávia Mendes:
A idéia surgiu apartir da possibilidade de revigoração do Espaço Cultural 508, que agora está sob direção de Ruy Faquini. A idéia inicial sofreu algumas modificações até chegar ao Lacuna. O projeto é fruto de parceria entre pessoas que já trabalhavam com vídeo, para ser precisa, Mayra Miranda, Luan Grisolia e Gabi, mais tarde André Santangelo.

Calcinhas: Quando vai ocorrer? e Quem pode Participar?

Flávia Mendes:
A primeira mostra ocorre dia 27 de maio às 19:00hs no Espaço Cultural Renato Russo na 508 Sul. Pode participar qualquer pessoa que tenha uma produção de até 10 minutos.

Calcinhas: Como faço para me inscrever?

Flávia Mendes: Para se increver basta mandar um e-mail para flmsena@gmail.com e vai receber todas as informações, o formulário de inscrição e o termo de concessão. Você também pode entrar em contato pelo telefone 8482-3855. O material precisa estar em DVD, ter no máximo 10 minutos e o artista deve assinar um termo de concessão de imagens. O material não será devolvido, mas guardado no acervo. Ambos devem ser entregues, juntamente com o vídeo, no Espaço Cultural 508. Há uma seleção antes e um vídeo pode ser selecionado para uma mostra do mês seguinte, ou seja, pode ser que a mostra não ocorra no mesmo mês da inscrição. Quanto as datas, os participantes serão informados. Para essa mostra, pode o material ser entregue até dia 20.
Calcinhas: Irão acontecer outras edições?
Flávia Mendes: O projeto é mensal, ocorre sempre na última quinta feira de cada mês, no mesmo locae e horário. É claro que o sucesso do Projeto depende da participação de todos e deixo o convite para participarem ou como público ou como artista!!
Outras Informações no blog: http://lacuna.noblogs.org/

Uma dose de coragem

Por Jessyka Albuquerque


O homossexualismo já se tornou normal nos dias de hoje, mas poucos são os que se assumem e têm a coragem de encarar a sociedade


Em seus documentos e para alguns familiares, é Marcelo. Na sua aparência e para todos os seus amigos, é Marcela. Uma “mulher” corajosa e decidida que resolveu correr atrás e enfrentar barreiras para viver bem.

Doutorando em Letras, formado em Direito, professor universitário e funcionário público concursado da Câmara dos Deputados, Marcelo desmistifica o estereótipo errôneo que se tem sobre os homossexuais, que, na maioria das vezes, são vistos como desprovidos de estudo e de estabilidade financeira.

Seu gosto pelo universo feminino começou muito cedo. Na infância não gostava de brincadeiras de meninos e, com isso, só brincava com meninas, não por gostar delas, mas por se sentir mais interado naquele meio.

Desde pequeno, já se sentia estranho em relação às outras crianças e era motivo de chacota e piadas irônicas devido ao seu jeito delicado e as suas características femininas. Foi na adolescência, com seu talento aflorado para a dança e o teatro, que começou a revelar seu lado afeminado. Em todas as peças que apresentava e nos bailes de carnaval, queria se vestir de mulher.

Sua primeira experiência homossexual aconteceu aos 13 anos, com um cara onze anos mais velho. Nunca se interessou sexualmente pelo sexo oposto. Na adolescência, beijo foi o máximo que aconteceu com alguém do sexo oposto. “Senti-me estranha, aquilo não combinava comigo”, afirma Marcela. A partir daí teve certeza que não sentia interesse algum por mulheres e nem por gays, seu interesse era por homens.

A família sempre desconfiou do seu homossexualismo, por isso não foi necessário contar a todos sua decisão, as coisas foram fluindo. Aos vinte anos, Marcela conheceu um rapaz por quem se apaixonou e percebeu que era hora de se expor e contar a sua mãe, apesar do receio em relação a sua reação. Eliana, mãe de Marcela, sempre apoiou e esteve ao lado do filho. “Apesar do choque inicial, eu sempre apoiei meu filho, a felicidade dele é a minha também”, afirma ela.

O casamento de Marcela era muito estável e durou cinco anos, só foi abalado devido ao falecimento do marido. A única coisa que a desagradava na relação era o fato de seu companheiro não gostar de vê-la vestida de mulher. Após o sofrimento inicial, Marcela resolveu dar a volta por cima e começou a se descobrir mais como mulher. “Passei a sair vestida de mulher e percebi que aquela sim era minha essência. Desagradava-me ter que trabalhar com roupas de homens”, afirma.

Antes da sua transformação definitiva, Marcela passou por grandes constrangimentos, pois, devido a sua grande quantidade de hormônios femininos, sua aparência chamava atenção em muitos lugares públicos, principalmente banheiros. “Era muito ruim ter que escutar: Senhora, você errou de banheiro!”, conta Marcela.

As mudanças físicas foram fluindo naturalmente. Em um mês pintou o cabelo, no outro tirou mais a sobrancelha, mas, no começo deste ano, Marcela resolveu que era hora de mudar completamente. Colocou silicone nos seios, renovou o guarda roupa e resolveu que seria uma mulher. No trabalho, as reações foram as mesmas, espanto inicial e muito elogio. Marcela diz estar muito mais contente, realizada.

Hoje, aos 29 anos, namora há dois e garante que está em uma das melhores fases de sua vida. E ainda pensa em melhorar. Está pesquisando sobre uma cirurgia de mudança de sexo, que tem a melhor técnica no Equador. Mas isso são planos futuros, a prioridade agora é curtir a nova fase e quem sabe se casar de novo.



Conheça uma história como a de Marcela.
Foto do arquivo pessoal de Marcela

Politicamente Lésbica

Por Poliana Nunes

“Um café, por favor! Não, dois. Um longo e um curto”. Em clima tranqüilo, entre um gole e outro, a afirmação: “Costumo dizer que sou 110% lésbica. 10% para não ter a dúvida da margem de erro. Eu gosto de brincar. Nem pra mais, nem pra menos. É pra dar 100% certinho.”

Aos sete anos de idade, Dayse Hansa definiu sua opção sexual, mas apenas aos 15 a família foi avisada. “Quando eu contei para minha mãe, ela achava que eu ia me masculinizar, eu ia virar uma drogada e quem sabe até virar uma prostituta. Hoje não é uma coisa conflituosa para mim.”

Feminista de carteirinha e militante, Dayse, 26, faz parte da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e do Movimento Juventude Negra (MJN). Sua participação é efetiva na sociedade. Há dois anos, falou com o presidente Lula sobre a campanha que o MJN lançou contra o genocídio da população jovem negra e indígena. “Fui lá e entreguei o laço laranja, símbolo da campanha, mas não entreguei a bandeira lésbica.”

Em relação ao preconceito, é firme e decidida: “Preconceito é falta de informação, e é cultural, totalmente”. Diz não se lembrar da última vez em que foi discriminada. “Hoje em dia não sei se eu sofro, porque já sendo militante, acho que a gente cria alguns mecanismos e você reage muito rápido.”

Para Dayse, a homossexualidade esbarra pura e simplesmente na questão cultural. “Se você foge do conceito de normalidade, já é diferente, e os dogmas contribuíram para isso. Então crescei e multiplicai-vos. Todas essas coisas dizem o que você tem que causar para ser um ser humano completo.”

Antes de ser militante, a feminista tinha preconceitos com relação às mulheres que eram estereotipadas de uma forma masculinizada, e os homens também. “Quando eu fui ver o universo, acabei tendo uma outra visão e você acaba também respeitando as diferenças. Hoje pra mim essa questão dos rótulos são coisas difíceis até de a gente desconstruir.”

“A nossa luta (das militantes) é realmente pelo reconhecimento dos nossos direitos civis e também pra tratar a desconstrução da homofobia (fobia a homossexuais) que infelizmente ainda acaba vitimando alguns jovens, acho que a maioria dos que sofrem são jovens, nas escolas principalmente, quando não verbalmente, fisicamente.”

“Sair do armário” é uma das defesas de Dayse. Para ela, é preciso sim, mas tudo é um processo. Enquanto militante, acredita que a partir do momento em que assume a sexualidade e adota uma postura, o homossexual causa uma mudança dentro do seu ambiente, seja qual for.

Se relacionar com homens não é algo fora das experiências de Dayse. “Eu sou lésbica sim, politicamente também. Existe uma diferença, às vezes agente assume papéis políticos, mas se eu me apaixonar hoje por um homem eu viveria tranqüilamente, e continuaria com a minha posição de lésbica por uma questão política.”

“Eu luto por uma sociedade mais humana e quem sabe meus netos possam viver num mundo melhor. Que eles não precisem apresentar carteirinha dizendo sou heterossexual, sou bi, sou gay, sou lésbica. Que as pessoas possam transitar tranqüilamente e amar quem elas quiserem.”

sexta-feira, 16 de maio de 2008

A sedução das roupas de baixo

Por Larissa Itaboraí

Os anos se passaram, mas as lingeries continuam com o mesmo glamour

Bem elaboradas, confortáveis, com detalhes sedutores e desenhos que valorizam o corpo da mulher, a lingerie é um acessório que atrai tanto o público feminino quanto o masculino. Para alguns homens, pode até ser vista como um objeto de desejo. A chamada lingerie é composta por calcinha, sutiã, cinta-liga, espartilho e outras peças como as fantasias eróticas.

As mudanças no design, nos tecidos utilizados e na usabilidade acompanham a evolução da sociedade, já que desde o século XIX as mulheres utilizam peças íntimas. Entre elas está o espartilho, que apesar de luxuoso e com modelos belíssimos, incomodavam bastante, pois apertavam a cintura das mulheres e muitas vezes prejudicava a saúde.

Apesar da polêmica revolução sexual, com mulheres em praça pública queimando seus sutiãs pela liberdade feminina, tempos depois, elas aderiram à nova moda das roupas de baixo, já que os sutiãs e as outras peças que compõem as lingeries apareceram de maneira muito sensual.

Atualmente as peças íntimas são excessivamente consumidas por mulheres, sejam elas donas de casa, empresárias, advogadas, juízas de futebol, dentre tantas outras. As lojas especializadas estão espalhadas por toda a capital, tanto com grandes grifes em shoppings, quanto em lojas mais simples, localizadas nas comerciais da cidade, como no Conic, espaço bastante conhecido pelos moradores de Brasília.

A loja Atração Moda Íntima, localizada no Conic, conta com um grande número de clientes, já que o centro comercial é constantemente freqüentado por diversas pessoas durante todo o dia. Karina Tavares trabalha na loja há mais de um ano, e conta que as maiores freqüentadoras são mulheres, principalmente as empregadas.

Geralmente as mulheres procuram conjuntos de calcinha com sutiã e aderem a peças mais confortáveis quando se trata de usar no dia-a-dia. Porém quando o assunto é seduzir seus companheiros, elas preferem as lingeries com rendas, pedrarias e com cores mais chocantes, como o vermelho. Ainda segundo Karina, as cores que mais são vendidas são o branco, o preto, o vermelho e cor da pele.

Durante a época do dia dos namorados, as lojas especializadas costumam vender bastante, principalmente as lingeries mais ousadas, àquelas que vêm com cinta-liga e até as eróticas fantasias, que tanto atraem os homens.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

As mulheres na vida de Vinícus de Morais

Por Gabriela Alves*

Eu fico, tu ficas e ele fica

Duas versões da mesma história

Por Amanda Alcântara*


Depois que a cabeça esfriou, resolvi que o incidente merecia um crônica. Vamos lá... A sexta-feira já tinha sido tensa, mas tudo sempre pode piorar. Sabe aquele dia em que você pensa que tudo vai ser bacana, mas, às vezes, bastam duas doses de Hi Fi pra estragar os momentos? Nessas horas, você pergunta o que não deveria e, de quebra, escuta o que não quer. Depois de longa conversa e de argumentos contestados, fica tudo bem, a noite acaba, as coisas voltam ao normal e você se esforça para esquecer a pulga atrás da orelha de pouco tempo atrás.

Outro dia nasce e traz com ele coincidências. Era véspera do dia das mães e eu fui buscar o presente da matriarca na casa do meu pai. Ele fez questão de comprar o presente dela. O inusitado é que eles são separados e eu nunca esperaria uma atitude dessas. Até agora, desconfio desse surto de bondade, mas aceitei o mimo. Estava sem tempo mesmo...

Tudo começa agora, no momento em que vou buscar o rádio. Levo uma companhia comigo, uma companhia masculina. Chego, interfono, subo e cumprimento meu pai e, também, as filhas da minha madrasta. Brasília é pequena. Tão pequena. Uma das moçoilas já conhecia o rapazinho. Que coincidência: aulinhas de inglês.

Vou ao quarto e vejo o presente. Não era bem o que eu queria que ele comprasse, mas eu não poderia esperar coisa melhor. Não, não mesmo, estava de bom tamanho, sim. Eu no quarto. Eles na sala. Conversas. Risadas. Assuntos em comum. Volto junto com meu pai. Conversa continua; conversa vai; conversa vem; conversa não acaba.

Vejo o passado num flash. Mas não, não era possível. De novo, não... De novo, sim. Tempos atrás, evitava levar meu ex-namorado na residência deles, justamente por não confiar na simpatia da minha 'quase' irmã. E isso iria se repetir?

Era hora de ir embora. Afinal, eu estava com muiiita fome. Com muita classe, é claro, e sem demonstrar o que sentia, nos retiramos de lá. No elevador, já se poderia sentir o tamanho da minha raiva. Contei o que me incomodava e o histórico de desconfiança com a bendita menina. Ele me entendeu e tudo ficou bem.

Dezenove minutos depois, meu pai liga para almoçarmos juntos. Mesmo sem querer, fomos. No restaurante, ele comenta que a menina gostaria de ter ido também, mas que ela já tinha um compromisso marcado, um churrasco. Contou que ela ainda quase foi, mas dependia de carona depois.

Melhor assim. Mas isso só aumentou minha certeza de que ela estava afim de implicar. Em outra situação, ela com certeza não faria questão de almoçar conosco. Pelo contrário, até evitaria.

A noite chega. Oba, sábado é dia de não ficar em casa. Tem coisa pior do que ver o início do programa Zorra Total e saber que você ainda não tem uma festa pra ir? Isso, pra mim, é triste. Mas eu não ia ficar em casa e, dessa vez, nada iria dar errado. Não íamos discutir, não mesmo.

Estava frio, esqueci minha carteirinha de estudante em casa, a película francesa dava sono. O meu estado de espírito não era dos melhores, mas eu me esforçava. Saímos na metade do filme e fomos comer pizza. Não agüentei, voltei ao assunto. Perguntei se a menina, nas aulas de inglês, se insinuava, se era 'pirigueti'. Como resposta, eu ouvi: - Posso te falar a verdade? Eu e ela já, já, já saímos, já ficamos.

Eu pensei que tinha terminado aí. Mas ele também já ficou com duas amigas minhas. Uma, que estudou comigo na adolescência e que, de vez em quando, é companheira de balada; e outra que atualmente é namorada do meu amigo. Mundo moderno, novas formas de se relacionar com a mania de "ficar". E eu me questiono: Posso reclamar? Não. Eu também tô ficando com ele...



* Identidades preservadas, para evitar o "efeito ervilha"

Ervilha Problemática

Duas versões da mesma história

Por Abelardo Freitas*

O mundo é uma ervilha, disso todo mundo sabe. E isso, quase sempre, acaba se voltando contra nós. Afinal, é difícil você encontrar exatamente a pessoa com quem precisa falar fortuitamente. Isso não. Você encontra justamente quem preferia passar longe. Não que este seja o caso, mas quase.

Tem fins de semana que são feitos para serem esquecidos. Aquele foi um deles. Já começou mal, logo na sexta-feira. Era para ter sido tudo perfeito. Saímos para conhecer um lugar novo. Um assalto o valor cobrado. Sessenta reais só para dar o ar da graça, mas, pelo menos, tinha consumação. Duas doses de Hi Fi (apenas) depois, a coisa degringolou.

Conversa vai, conversa vem, e aquela perguntinha sobre seu passado surge. Você responde, já sabendo que boa coisa não vem por aí. E não dá outra: discussão pro resto da noite. Depois de muita contemporização, tudo fica “bem”. No fundo, os dois sabiam que ficou um clima meio esquisito, mas estávamos decididos a esquecer.

O sábado ensaiou ser um dia melhor e iríamos almoçar juntos. Ela é filha de pais separados, e seu pai é casado com uma mãe de outros três filhos (um homem e duas mulheres). Eis que entra na história o fator “mundo ervilha”. As enteadas do pai e quase meias-irmãs dela foram minhas alunas há uns dois anos, mais ou menos.

Aparentemente, isso não seria problema. Aparentemente. Porque com a mais velha das minhas ex-alunas, a coisa se estendeu para além da sala de aula (depois que não éramos mais aluna e professor, que fique claro). Nada sério, mas o suficiente para quase causar um desastre. Enquanto minha companhia entra para os quartos para fazer não-lembro-o-quê, fico na sala e logo recebo a companhia da ex-aluna mais velha. Conversamos sobre a morte da bezerra, nada demais. Mesmo assim, já dá para perceber o rumo da história, não?

Saindo do apartamento, noto uma mudança na expressão dela logo no elevador. “Nada não”, disse – como toda mulher sempre faz. Aí eu comecei a temer. O “nada não” é o maior atestado de que há algo de muito podre no reino da Dinamarca. Ao ouvir isso, qualquer homem já pressente as chibatadas que não tardarão em vir. E não seria desta vez que uma exceção ocorreria.

O problema: a conversa com a quase meia irmã. Defendi-me, afirmando que já nos conhecíamos antes, por isso o papo fluiu. Mas o buraco era mais embaixo, e ela comentou que as duas não se davam, e a quase parenta gostava de irritá-la conversando toda amigável com qualquer “companhia” que ela levasse.

O pai dela liga, então, nos convidando para almoçar. Vamos e, durante a refeição, ele comenta que o motivo da discórdia queria muito nos acompanhar, mas tinha um churrasco para ir e nenhuma amiga topou pegá-la no restaurante. Desejo incomum, que corroborava para as sensações de incômodo esbravejadas anteriormente.

Depois do almoço, deixei-a em casa e fui para a minha. Combinamos um cineminha à noite, e acabei tomando um chá de cadeira. Valeu a pena; ela chegou linda e, como sempre, muito cheirosa. Filminho francês. Cinema longe e longa-metragem completamente non sense. Dormi em uns pedaços, não prestei atenção noutros, e saímos antes do fim para comer uma pizza.

O “assunto do dia” voltou à tona, e fui perguntado se já tinha recebido uma cantada da menina em questão. Fui sincero e, sem titubear, disparei. “Já ficamos”. Foi o inferno na torre. Briga, discussão e o questionamento: “Por que não falou antes?”. Simplesmente porque era algo do meu passado, que aconteceu há muito tempo e se não teve importância à época, imagine agora. No entanto, explicar que focinho de porco não é tomada é bem complicado...

No dia seguinte, sentamos para conversar e decidir se continuávamos ou não a sair juntos. Decidimos pelo sim, e ela me perguntou sobre outra conhecida em comum. Outro “sim, já ficamos”. “Meu Deus”, pensava eu... Quando a pergunta foi se eu gostaria de sanar alguma curiosidade mórbida sobre o passado dela, limitei-me a dizer: “eu não. Quem procura acha”.


* Identidades preservadas, para evitar o "efeito ervilha"

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Martha Argerich: A melhor pianista da atualidade

Por João Gabriel de Lima, da Veja, adaptada por Cristina Nascimento


A pianista argentina Martha Argerich é para muitos a maior artista do século em sua especialidade. Não é uma revolucionária como o russo Vladimir Horowitz ou o canadense Glenn Gould, que, cada um a seu modo, reinventaram o ofício de tocar piano. Ela tem o mérito de possuir um estilo inconfundível numa geração em que a maior parte dos pianistas sucumbiu à influência dos dois monstros sagrados acima ou de outros igualmente marcantes como Arturo Benedetti Michelangeli, Nikita Magaloff ou Friedrich Gulda. Esses três foram professores de Martha Argerich, que, menina prodígio nos anos 50, foi aceita como aluna pelas grandes feras do teclado na época. Diz uma velha piada que prodígio é aquele que aos 4 anos toca como gente grande mas, ao chegar aos 30, continua tocando como uma criança de 4 anos. (A melhor encarnação atual desse clichê é o pianista David Helfgott, aquele que inspirou o filme Shine Brilhante.) Martha contrariou a profecia e continuou evoluindo até se tornar a principal figura feminina do piano neste século. Não sem percalços. Aos 19 anos, insatisfeita com seu trabalho, largou a carreira. Só a retomou aos 23, pouco antes de ganhar o concurso Chopin em Varsóvia, um dos mais importantes do mundo.
Além disso, Martha conta com uma das versões mais belamente interpretadas do grande Concerto para Piano nº III de Rachmaninoff (Rach 3), já sendo considerada versão definitiva por muitos.

Confira a atuação de Martha Argerich.

Foto do arquivo de divulgação de Martha Argerich

domingo, 11 de maio de 2008

Um dia das mães mais feliz

Por Bianca Fragoso

Graça Cavalcante ganhou um grande presente neste dia das mães: um novo filho. Para quem também deseja adotar uma criança, é bom ficar atento, o Cadastro Unificado de Adoção irá acelerar o processo nacional, além de proporcionar números mais precisos de órfãos à espera de um lar.


Ela tem 57 anos, é viúva, tem quatro filhos adultos e três netos. Sua rotina começa cedo, às 6h da manhã, quando sai de casa para costurar e atender uma agenda farta de clientes. Adotar uma criança, nessa altura do campeonato, não fazia parte dos planos da cearense Graça Cavalcante.

As coisas nem sempre são como se planeja. E a idéia de um novo integrante da família veio quando Leila, filha do meio de Graça, comentou que conhecia uma mulher grávida que pretendia dar o filho. Dias depois, o assunto voltou a ser comentado em casa e a novidade era que encontraram um casal para adotar o bebê. Havia apenas uma condição: queriam que fosse uma menina.

Não era. Ao saber da desistência do casal para adotar a criança, Graça começou a ver que sua vida poderia mudar. Ela então aceitou o desafio e se viu em uma situação não vivida há muito tempo. Tudo aconteceu de forma rápida e, após três dias de vida, Arthur já estava na nova família. Graça entrou na justiça e, no momento, está com a guarda provisória da criança.

O Dia das Mães, segundo ela, será mais feliz esse ano. “Eu já estou apaixonada por ele. A gente cria um amor, um carinho igual ao que a gente tem pelos outros filhos. E esse dia das mães será diferente, sim. Será melhor.”

Novidades no Processo de Adoção

O Conselho Nacional de Justiça lançou, na semana passada, o Cadastro Unificado para Adoção. Com o novo sistema será possível acelerar o processo nacional e saber o
número exato de crianças à espera de uma família no país. A vara de cada Estado receberá um código de acesso via web para se cadastrar e a expectativa é que todas as informações sejam postadas até novembro deste ano.

O trâmite continua quase o mesmo: o futuro pai entra na fila, depois de solicitar o pedido de adoção na Vara da Infância. Lá, ele indica o perfil desejado e depois essas informações são publicadas. Haverá, assim, um grande banco de dados e os perfis publicados em cada vara serão cruzados com as do restante do país.

Segundo o IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, a maioria dos pais prefere meninas, de cor branca, com até cinco anos de idade. Isso mostra que os perfis não se cruzam. A conselheira do CNJ, Andréa Pacha, explica que a realidade é diferente e que, pelo menos, metade das crianças e adolescentes são meninos e têm mais de sete anos. Desses, quatro em cada cinco são negros.

Foto: Bianca Fragoso

sábado, 10 de maio de 2008

Ser mãe é amadurecer

Por Diândria Daia


Ser mãe e estudante universitária é um retrato da mulher moderna, que cada vez mais se insere no mercado de trabalho e nas escolas, mas não deixa de exercer os papéis considerados tipicamente femininos. Trabalhar, estudar e cuidar da família compõem a maratona de algumas mulheres de hoje.

Maria José Nascimento Silva, 28 anos, é um exemplo desse perfil. Trabalha diariamente de 8h às 18h, na secretaria do curso de Comunicação Social da Universidade Católica de Brasília (UCB), e faz o segundo semestre de Contabilidade à noite. Além disso, é mãe de duas meninas: Camilla de 10 anos e Marielle de 4. A correria é grande e Maria José diz que sente falta de ficar mais tempo com as filhas, mas alegra-se muito com a experiência. “É trabalhoso, mas é muito bom. Eu acho que toda mulher deveria ser mãe”.

Ela conta que a situação hoje não é fácil, mas no começo foi pior. Grávida da primeira filha aos 17 anos, ela não teve o apoio imediato dos pais, que ficaram um tempo sem falar com Maria José. Apesar dos momentos difíceis, acredita que a maternidade fez ela se aproximar de sua mãe. “Eu entendo muito mais a minha mãe, hoje ela é minha amiga, me liga todo dia, me ajuda. Minha mãe me ama.” Além do apoio dos pais, Maria José diz também que seu marido ajuda muito em casa e é um pai bem presente.

Atualmente sem trabalho formal e longe dos estudos, Ana Lígia da Silva Chaves, 31 anos, também fala de sua experiência como mãe universitária. A estudante de Biologia da UCB mora com os pais, no Guará, e é mãe de Giovanna, de 7 anos.

A gravidez não a afastou dos estudos, nem da pesquisa de campo, típica do curso. Ana Lígia teve apoio de professores e amigos e levou uma gravidez tranqüila, estudando até o nono mês. “Só não viajei para Pirinópolis para um trabalho da faculdade, porque os professores não deixaram, ficaram com medo da Giovanna nascer durante a viagem.” Na época ela estava no oitavo mês, e levou os estudos até o último momento “Deixei de ir à faculdade numa sexta-feira, e na quarta da semana seguinte a Giovanna nasceu.”




Tanto Maria José como Ana Lígia concordam que durante a gravidez a mulher já se sente mãe. Suas prioridades mudam e todos os seus planos passam a girar em torno da criança. Ana Lígia diz também que um dos momentos mais marcantes de sua experiência como mãe foi logo que sua filha nasceu “Quando a obstetra colocou a Giovanna em meu colo, eu chamei o nome dela, e ela abriu os olhos e olhou pra mim”.
Foto: Diândria Daia

Oito mulheres e um desafio

Por Marina Guimarães

Uma brincadeira de amigas vira receita de sucesso

Unidas por um único objetivo, oito mulheres resolveram correr atrás de um desafio. Conseguir completar com dignidade uma maratona de revezamento. Moradoras do Distrito Federal, essa oportunidade chegou com a 2ª Maratona Brasília de Revezamento do Correio Braziliense, que aconteceu no dia do aniversário de Brasília, dia 21 de abril de 2008.

Durante dois meses antes da prova elas se reuniam aos domingos com um treinador, contratado por elas, para treinos coletivos. Exercícios educativos e de resistência eram trabalhados pelo grupo. Já duran te a semana, cada participante tinha como obrigação treinar individualmente, para não perder o ritmo e conseguir aumentar a distância.


Depois de muitas sugestões sobre a escolha do nome da equipe para se fazer a inscrição, uma amiga que não estava no grupo de corrida resolveu opinar. Cristiane Rosa sugeriu o nome Noivas em Fuga. ´´Minha idéia foi pensar em um personagem, pensei em noiva, então surgiu Noivas em Fuga``, diz Cristiane.


O apoio dos pais, namorados, parentes e amigos foram essênciais para concretização desse projeto. Joana Ferreira, mãe da participante Clarisse Ferreira ajudou na confecção das fantasias de noiva. ´´Minha mãe era a mais empolgada, parecia que estávamos casando de verdade``, declara Clarisse.

O Grande dia finalmente chegou e Fábia, Marina, Clarisse, Haina, Juliana, Rafaela, Daniela e Tatiana se viram diante de uma vitória. Elas não ganharam a prova, nem mesmo ficaram entre os primeiros colocados, mas conseguiram completar a maratona e ainda fizeram o maior sucesso, com suas fantasias de noivas, com os jornalistas que cobriam a corrida e crianças e adultos que assistiam à competição.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Violência que amedronta

Por Jessyka Albuquerque

A violência doméstica contra a mulher é um fato muito grave que atinge milhões de pessoas em todos os lugares. Trata-se de um problema que não costuma obedecer a nenhum nível social ou econômico, orientação religiosa ou aspecto cultural específico, como poderiam pensar algumas pessoas.

Isso acarreta duas conseqüências muito graves: primeiro, o sofrimento indescritível das vítimas (muitas vezes silenciosas); o segundo é que, comprovadamente, a violência psicológica ou sexual impede o bom andamento físico e mental da pessoa.

A violência física, que se manifesta de forma mais contundente, vem, quase sempre, seguida da psicológica. Raramente a violência já começa na forma física; na maioria das vezes, já teve antecedentes psicológicos. Isso é índice de que a dor que se manifesta no corpo, habitualmente segue marcas imperceptíveis – mas vigorosas – que são deixadas pela ação devastadora que a mulher sofre no aspecto psicológico.
Os órgãos de defesa da mulher promovem diversas campanhas incentivando as mulheres a denunciarem seus agressores. Muitas vezes, elas não o fazem por medo, ou até por apelo emocional do agressor, que promete mudar. Algumas até fazem, mas se arrependem e retiram a queixa.

Por isso, em agosto de 2006, foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Lei Federal Maria da Penha (nº. 11.340/06), que obriga o agressor a ser julgado. E poderá ser condenado, mesmo que a vítima não tenha denunciado o crime. Essa medida foi tomada para que mais agressores possam ser presos, já que um grande número fica impune. A denúncia pode ser feita por um parente ou por alguma pessoa que tenha testemunhado a agressão e, mesmo que a mulher não queira que o agressor seja julgado, ele terá de ser, conforme a lei.
A psicóloga Tatiane Silva de 34 anos, que atua como psicóloga e agente policial na Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM), conta que, em palestras promovidas pela polícia, é comum as pessoas, ao final da palestra, se sentirem motivadas e denunciarem seus agressores. Na delegacia, eles recebem, em média, de cinco a dez denúncias por dia.

Ao contrário do que se possa imaginar, a violência doméstica no Distrito Federal não costuma acontecer só nas cidades satélites. Infelizmente, a violência é perversamente democrática, acontece em todas as cidades e estratos sociais. Contudo, normalmente, as pessoas de menor poder aquisitivo denunciam mais. Pessoas com maior poder aquisitivo evitam fazer as denuncias devido à posição social, com medo de escândalos.

Normalmente, as mulheres vítimas da violência têm uma tendência a voltar pra casa, perdoar seu agressor e sofrer novamente o mesmo tipo de agressão, mas permanecer calada e aceitar a situação. Além disso, costumam ficar depressivas e com síndrome de perseguição. “Para isso temos na própria delegacia um programa de aconselhamento, de atendimento psicológico, que ajudam a vítima a se restabelecer socialmente.”, diz Tatiana.

O principal motivo utilizado pelos agressores para justificar a agressão é o ciúme. Normalmente, cometem a violência após se alcoolizarem ou se drogarem, pois assumem uma personalidade mais corajosa, motivada pelo efeito desses entorpecentes.

Para mudar esse quadro de aumento da violência, a delegada Tatiana dá uma dica às vítimas: “O ideal a ser feito é ter bastante diálogo dentro do lar, mas se isso não adiantar, a delegacia da mulher tem profissionais competentes que conduzirâo a situação da melhor maneira possível. Pois só assim poderemos mudar esse quadro vergonhoso de violência doméstica.”.


A DEAM (Delegacia de Atendimento a Mulher) fica na EQS 204/205 e os telefones são: 3442-4300 e 3244-3400.

Mulheres no Parlamento

Por Maíra Elluké

Proposta do Governo Federal visa estimular uma maior participação feminina na política brasileira


Uma campanha publicitária para rádio e televisão, prevista para ir ao ar no final de maio, em todo o território brasileiro, pretende estimular a participação das mulheres nas eleições municipais de outubro. A iniciativa é da ministra Nilcéa Freire, da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres. A Secretaria da Mulher também vai disponibilizar às interessadas em entrar no mundo da política, um curso de capacitação para ajudar no desempenho nas eleições deste ano. Na internet será disponibilizado um histórico sobre a participação da mulher na história brasileira. Além disso, a Secretaria dará subsídios para que as candidatas compreendam questões como a violência na sociedade, a violência doméstica, a autonomia econômica da mulher, saúde e educação feminina.


Para a integrante da Bancada Feminina, na Câmara dos Deputados, deputada Janete Pietá (PT/SP), a campanha é necessária para despertar nas mulheres brasileiras a coragem de lutarem por suas necessidades. "O universo feminino precisa chegar às leis. Se não houver participação feminina, como é que o Brasil vai ter esse novo olhar de mundo?", disse. A deputada também defende que as mulheres têm mais sensibilidade diante dos problemas enfrentados pelo país. “Precisamos acreditar que somos capazes de mudar o que está errado, a partir da construção de um mundo de desenvolvimento, solidariedade, fraternidade e carinho, que são algumas das características do ser feminino”, completou Janete Pietá.


"O universo feminino precisa
chegar às leis", diz Janete Pietá

"Se as mulheres são maioria em todo o mundo, elas precisam se capacitar para ocupar de forma mais maciça os espaços de poder". A afirmação da deputada Luiza Erundina (PSB/SP) reflete uma das prioridades das deputadas federais no Congresso Nacional. Até o final do ano, a Bancada Feminina pretende realizar audiências públicas para estabelecer formas de trabalho que estimulem as mulheres a tomarem as frentes políticas em seus estados e municípios. Luiza Erundina citou ainda o caso de várias mulheres pelo mundo. Para ela, o Brasil ainda é um país machista e isso impede que muitas “Marias”, “Anas” e “Fernandas” tomem os lugares dos homens na política brasileira. "Fora do Brasil, a realidade já é outra. É o caso do Chile, que tem como presidente Michelle Bachelet. Na Argentina, Cristina Kirchner comanda o país e nos EUA, Hillary Clinton entrou na disputa presidencial, porque aqui nós temos que deixar a presidência para um homem?", destacou.
Luiza Erundina defende a causa
feminina no Congresso Nacional
De acordo com uma pesquisa encomendada pelo jornal O Estado de S. Paulo ao Instituto de Pesquisa Ipsos, divulgada em janeiro deste ano, para 58% do eleitorado brasileiro, a participação da mulher na política "é menor do que deveria ser". Já para 67% dos eleitores, se as mulheres ocupassem mais cargos na política do país, o Brasil seria um país menos desigual. Maiorias expressivas também consideraram que a mulher é mais honesta e mais competente que os homens. E 69% dos eleitores declararam que votariam numa mulher para presidente da República.

Mais informações sobre a Campanha podem ser encontradas no Site da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres:
http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sepm/.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Conquistando o mercado de trabalho

Por Jaqueline Ribeiro

Elas dominam o que antes eram profissões exercidas somente por homens.

O dicionário Aurélio assim define machismo: atitude ou comportamento de quem não aceita a igualdade de direitos para o homem e a mulher, sendo contrário, pois, ao feminismo.

“Porque vivemos numa sociedade machista: matrimônio e cuidado do lar; patrimônio e domínio dos bens”. A frase é de Frei Betto, no entanto poderia ser bem dita e mal dita por qualquer mulher. Machismo e preconceito são exatamente o que algumas mulheres enfrentam na profissão que exercem. Algumas, contudo, lutam para que essa realidade mude. Elas estão ganhando espaço e, às vezes, chegam a ganhar mais que os homens (no Brasil, é notório que as mulheres recebem, em média, rendimentos 30% inferiores aos dos homens, mesmo tendo nível de escolaridade superior). Elas estão revolucionando o mercado de trabalho, descortinando, com coragem, novas trilhas para a humanidade, numa perspectiva abrangente da democracia. Conheça a história de duas mulheres que são motoristas, mas de veículos diferentes.

Daniele Reis Miranda, 26 anos, há três é mototaxista. Ela trabalha na empresa Ligeirinho MotoTáxi, em Santa Maria. O trabalho é perigoso. Apesar de a pressa não ser tanta, ela corre os mesmos riscos no trânsito e diz não ter alternativa: “Estou aqui porque preciso, assim que conseguir algo melhor, não penso duas vezes em sair”. Ela trabalha das 8h às 20h, ganha de R$ 2 a R$ 10 por corrida, “é muito cansativo e eu trabalho muito pra conseguir tirar o meu sustento”.

Além dos perigos do trânsito, vem o problema do assalto. Com Daniele nunca aconteceu, mas aconteceu com uma amiga, “queriam levar a moto dela, por sorte passou um carro da polícia, e só deu tempo dos assaltantes levarem o dinheiro que ela tinha faturado no dia”, conta. Daniele é sonhadora: pensa em cursar faculdade, ser advogada um dia, quer casar e ter filhos, mas enquanto isso não acontece vai levando a vida e também passageiros.

Já Mônica Silveira, 34 anos, é motorista de ônibus da empresa Rápido Brasília. Seu itinerário é Asa Sul e Norte, numa escala de oito horas diárias. “Meu trabalho não tem moleza, é muito estressante”, diz. Segundo Mônica, quando pára nos pontos de ônibus, as pessoas estranham, se assustam, mas ela acha normal. “Não passa de preconceito, as pessoas não estão acostumadas, somos minoria mesmo”, afirma.

Ela impõe respeito no ônibus, não aceita desaforo nem piadas de qualquer um. Diz que já levou cantada, mas finge não ser com ela: “Já fiz passageiro descer do ônibus e faço de novo se for necessário”. Apesar do cansaço e do trânsito movimentado, Mônica gosta do que faz. Ela se acha calma e não é qualquer coisa que a tira do sério, nem mesmo os congestionamentos que o trânsito de Brasília lhe oferece diariamente, e conclui: “Eu amo o meu trabalho”.

Elas dominam

Por Maíra Elluké

Que o jornalismo é dominado pelas mulheres isso já não é mais novidade. Quando se fala em editoria de moda então, aí sim o assunto fica predominantemente entre elas

Desde que ela nasceu, vive entre as bonecas. Aquele troca-troca de roupas encanta essa sonhadora de pouca idade. A menina virou adolescente e a paixão pelas bonecas e suas inúmeras combinações de calças, blusas, vestidos e sapatos ainda perdura. Chegou a hora do vestibular e a jovem decide fazer faculdade de jornalismo. Mas o entusiasmo pela moda ainda está lá de certa forma, adormecido. Depois de quatro anos num curso com muita teoria e que entre outras coisas aprende-se a escrever bem, ela parte pra área que causa frisson em qualquer um que ama o assunto.

A protagonista desse roteiro é a editora de moda do Jornal da Comunidade, Beatriz de Oliveira, 24. A brasiliense de nascimento e (agora) paulistana por opção, está no ramo há cinco anos e atualmente faz especialização em Jornalismo de Moda e Estilo de Vida na Universidade Anhembi Morumbi, localizada num dos bairros mais nobres da terra da garoa. De Brasília, onde se formou no Instituto de Ensino Superior de Brasília (IESB), a jovem jornalista foi de mala e salto alto para a grande metrópole em busca de mais oportunidades no mundinho fashion. Bia, como prefere ser chamada, diz que não se via em outra editoria e que trabalhar com moda é uma realização não só profissional, mas principalmente pessoal. “Moda é minha vida. Unir um assunto que eu gosto com o trabalho, realmente não tem preço”, declara.

A jornalista apaixonada por moda, Beatriz de Oliveira

Ser jornalista da editoria de moda é muito mais do que só fazer editoriais de moda, ir à desfiles, cobrir eventos badalados e fazer matérias sobre as celebrities do momento. É acima de tudo estar “antenada” com o mundo e ter uma atitude crítica sobre as novidades que surgem dia após dia. A cobertura de Moda exige especialização como qualquer outra editoria. Além disso, para ser uma jornalista de moda de sucesso, a candidata precisa ter um conhecimento detalhado sobre vestuário, indumentária, tecidos, tipos de costura, estilismo, história da arte e da moda, marketing, estética e design.

E de pensar que ainda existem aquelas cabeças que insistem em errar ao definir o assunto como fútil e sem importância. “Infeliz engano. A moda hoje está em todos os lugares. É um assunto que querendo ou não e mesmo sem perceber, um dia estará na pauta de conversas dos amigos e conhecidos”, afirma a jornalista de moda, Iesa Rodrigues. Uma das mais festejadas personagens da moda paulistana, Iesa, que é autora de vários livros em que o mundo fashion é o tema principal, trabalha na grande imprensa desde 1990. Desde então, já passou pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo e pelas revistas Vogue e Elle, atuando como colaboradora e colunista em editoriais e reportagens sobre moda. Atualmente é editora-chefe de moda do Jornal do Brasil. Em recente passagem por Brasília, Iesa palestrou para uma turma de futuros jornalistas de moda. Entre os presentes, cerca de 85% eram do sexo feminino. Para ela, o campo é dominado por meninas por uma simples razão. “As mulheres têm mais sensibilidade em lidar com o assunto e de uma forma ou de outra, ainda estão mais ligadas à moda do que os homens”, conclui.

Para a psicóloga comportamental do Instituto Agilità, Sílvia Celegrini, há uma explicação científica para justificar o porquê de tantas mulheres adentrarem no campo do jornalismo de moda. A moda está totalmente ligada ao consumo. O consumismo e a vontade de comprar, de possuir determinados bens estão diretamente interligados aos desejos e vontades. Sílvia explica que essas definições teóricas parecem complicadas, mas na prática são mais fáceis do que imaginamos. Muitas mulheres são loucas por sapatos e roupas. Muitas dessas são consumistas de carteirinha e para muitas delas, estar num campo de atuação profissional em que podem acompanhar as novidades da moda é sinônimo de sucesso, mesmo que muitas delas não tenham condições financeiras para consumir as grandes marcas, usadas pela maioria de suas fontes. Ou seja, “por já estarem perto de pessoas que consumam itens de grifes famosas, muitas mulheres já satisfazem alguns de seus sonhos de consumo”, explica a psicóloga.

A definição de Sílvia Celegrini pode parecer, para algumas, preconceituosa, mas o fato é que as mulheres dominam o campo do jornalismo de moda, seja por gostarem de ver pessoas bem vestidas, seja para poder acompanhar de perto as principais tendências da moda mundial e ainda escrever sobre o assunto. É o que revela dados da Giselle Najjar Press & Co, empresa que foi responsável pela assessoria de imprensa do São Paulo Fashion Week por 11 anos. Os números mostram que na edição de verão de 2007 do evento, foram credenciados 236 jornalistas nacionais e internacionais, de mídia impressa, rádio, TV, internet e fotógrafos, para fazerem a cobertura do SPFW. Entre todos esses profissionais, 195 eram mulheres, o que prova, assim como um mais um são dois, que a mulherada do jornalismo gosta mesmo de moda, seja pela herança da infância entre as bonecas, seja pela curiosidade de descobrir o que rola nas passarelas e nos eventos em que os fashionistas fervem.

Foto: Maíra Elluké