quinta-feira, 15 de maio de 2008

Ervilha Problemática

Duas versões da mesma história

Por Abelardo Freitas*

O mundo é uma ervilha, disso todo mundo sabe. E isso, quase sempre, acaba se voltando contra nós. Afinal, é difícil você encontrar exatamente a pessoa com quem precisa falar fortuitamente. Isso não. Você encontra justamente quem preferia passar longe. Não que este seja o caso, mas quase.

Tem fins de semana que são feitos para serem esquecidos. Aquele foi um deles. Já começou mal, logo na sexta-feira. Era para ter sido tudo perfeito. Saímos para conhecer um lugar novo. Um assalto o valor cobrado. Sessenta reais só para dar o ar da graça, mas, pelo menos, tinha consumação. Duas doses de Hi Fi (apenas) depois, a coisa degringolou.

Conversa vai, conversa vem, e aquela perguntinha sobre seu passado surge. Você responde, já sabendo que boa coisa não vem por aí. E não dá outra: discussão pro resto da noite. Depois de muita contemporização, tudo fica “bem”. No fundo, os dois sabiam que ficou um clima meio esquisito, mas estávamos decididos a esquecer.

O sábado ensaiou ser um dia melhor e iríamos almoçar juntos. Ela é filha de pais separados, e seu pai é casado com uma mãe de outros três filhos (um homem e duas mulheres). Eis que entra na história o fator “mundo ervilha”. As enteadas do pai e quase meias-irmãs dela foram minhas alunas há uns dois anos, mais ou menos.

Aparentemente, isso não seria problema. Aparentemente. Porque com a mais velha das minhas ex-alunas, a coisa se estendeu para além da sala de aula (depois que não éramos mais aluna e professor, que fique claro). Nada sério, mas o suficiente para quase causar um desastre. Enquanto minha companhia entra para os quartos para fazer não-lembro-o-quê, fico na sala e logo recebo a companhia da ex-aluna mais velha. Conversamos sobre a morte da bezerra, nada demais. Mesmo assim, já dá para perceber o rumo da história, não?

Saindo do apartamento, noto uma mudança na expressão dela logo no elevador. “Nada não”, disse – como toda mulher sempre faz. Aí eu comecei a temer. O “nada não” é o maior atestado de que há algo de muito podre no reino da Dinamarca. Ao ouvir isso, qualquer homem já pressente as chibatadas que não tardarão em vir. E não seria desta vez que uma exceção ocorreria.

O problema: a conversa com a quase meia irmã. Defendi-me, afirmando que já nos conhecíamos antes, por isso o papo fluiu. Mas o buraco era mais embaixo, e ela comentou que as duas não se davam, e a quase parenta gostava de irritá-la conversando toda amigável com qualquer “companhia” que ela levasse.

O pai dela liga, então, nos convidando para almoçar. Vamos e, durante a refeição, ele comenta que o motivo da discórdia queria muito nos acompanhar, mas tinha um churrasco para ir e nenhuma amiga topou pegá-la no restaurante. Desejo incomum, que corroborava para as sensações de incômodo esbravejadas anteriormente.

Depois do almoço, deixei-a em casa e fui para a minha. Combinamos um cineminha à noite, e acabei tomando um chá de cadeira. Valeu a pena; ela chegou linda e, como sempre, muito cheirosa. Filminho francês. Cinema longe e longa-metragem completamente non sense. Dormi em uns pedaços, não prestei atenção noutros, e saímos antes do fim para comer uma pizza.

O “assunto do dia” voltou à tona, e fui perguntado se já tinha recebido uma cantada da menina em questão. Fui sincero e, sem titubear, disparei. “Já ficamos”. Foi o inferno na torre. Briga, discussão e o questionamento: “Por que não falou antes?”. Simplesmente porque era algo do meu passado, que aconteceu há muito tempo e se não teve importância à época, imagine agora. No entanto, explicar que focinho de porco não é tomada é bem complicado...

No dia seguinte, sentamos para conversar e decidir se continuávamos ou não a sair juntos. Decidimos pelo sim, e ela me perguntou sobre outra conhecida em comum. Outro “sim, já ficamos”. “Meu Deus”, pensava eu... Quando a pergunta foi se eu gostaria de sanar alguma curiosidade mórbida sobre o passado dela, limitei-me a dizer: “eu não. Quem procura acha”.


* Identidades preservadas, para evitar o "efeito ervilha"

3 comentários:

Anônimo disse...

haha adoreei o título!
e essa historinha louca.
KKKKKKKKKK

;D

Anônimo disse...

osakposkaoskaoskaoskaoskao

nossa! e quem será a próxima? huahauahuahua
oow, o carinha se ferrou 3 vezes HEIN?

As Calcinhas Delas disse...

Pois é, a história prova que realmente o mundo é uma lata de ervilha. Agora, difícil responder essa pergunta de quem será a próxima. Hahaha
Valeu, gente!!

Abraço das Calcinhas.