sábado, 17 de maio de 2008

Politicamente Lésbica

Por Poliana Nunes

“Um café, por favor! Não, dois. Um longo e um curto”. Em clima tranqüilo, entre um gole e outro, a afirmação: “Costumo dizer que sou 110% lésbica. 10% para não ter a dúvida da margem de erro. Eu gosto de brincar. Nem pra mais, nem pra menos. É pra dar 100% certinho.”

Aos sete anos de idade, Dayse Hansa definiu sua opção sexual, mas apenas aos 15 a família foi avisada. “Quando eu contei para minha mãe, ela achava que eu ia me masculinizar, eu ia virar uma drogada e quem sabe até virar uma prostituta. Hoje não é uma coisa conflituosa para mim.”

Feminista de carteirinha e militante, Dayse, 26, faz parte da Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) e do Movimento Juventude Negra (MJN). Sua participação é efetiva na sociedade. Há dois anos, falou com o presidente Lula sobre a campanha que o MJN lançou contra o genocídio da população jovem negra e indígena. “Fui lá e entreguei o laço laranja, símbolo da campanha, mas não entreguei a bandeira lésbica.”

Em relação ao preconceito, é firme e decidida: “Preconceito é falta de informação, e é cultural, totalmente”. Diz não se lembrar da última vez em que foi discriminada. “Hoje em dia não sei se eu sofro, porque já sendo militante, acho que a gente cria alguns mecanismos e você reage muito rápido.”

Para Dayse, a homossexualidade esbarra pura e simplesmente na questão cultural. “Se você foge do conceito de normalidade, já é diferente, e os dogmas contribuíram para isso. Então crescei e multiplicai-vos. Todas essas coisas dizem o que você tem que causar para ser um ser humano completo.”

Antes de ser militante, a feminista tinha preconceitos com relação às mulheres que eram estereotipadas de uma forma masculinizada, e os homens também. “Quando eu fui ver o universo, acabei tendo uma outra visão e você acaba também respeitando as diferenças. Hoje pra mim essa questão dos rótulos são coisas difíceis até de a gente desconstruir.”

“A nossa luta (das militantes) é realmente pelo reconhecimento dos nossos direitos civis e também pra tratar a desconstrução da homofobia (fobia a homossexuais) que infelizmente ainda acaba vitimando alguns jovens, acho que a maioria dos que sofrem são jovens, nas escolas principalmente, quando não verbalmente, fisicamente.”

“Sair do armário” é uma das defesas de Dayse. Para ela, é preciso sim, mas tudo é um processo. Enquanto militante, acredita que a partir do momento em que assume a sexualidade e adota uma postura, o homossexual causa uma mudança dentro do seu ambiente, seja qual for.

Se relacionar com homens não é algo fora das experiências de Dayse. “Eu sou lésbica sim, politicamente também. Existe uma diferença, às vezes agente assume papéis políticos, mas se eu me apaixonar hoje por um homem eu viveria tranqüilamente, e continuaria com a minha posição de lésbica por uma questão política.”

“Eu luto por uma sociedade mais humana e quem sabe meus netos possam viver num mundo melhor. Que eles não precisem apresentar carteirinha dizendo sou heterossexual, sou bi, sou gay, sou lésbica. Que as pessoas possam transitar tranqüilamente e amar quem elas quiserem.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Parabens pela materia. Gostaria de viver num mundo sem preconceitos.
Abraços

Maria Padilha

As Calcinhas Delas disse...

Olá Maria, obrigada pela atenção!
Sim, também gostaria...
Mas sabemos que este é um problema cultural, social. Acredito que é por meio das atitudes que podemos amenizar os preconceitos.
Movimentos como o da Juventude Negra, a LBL, citadas no texto, são apenas contribuições para esta luta.

Abraço,

Poliana Nunes